Um vírus que machuca e mata

Existem muitas doenças sofridas no mundo. Umas matam rapidamente, outras nem tanto. Não tem como “medir” qual é a pior, mas tem uma que eu considero terrível: o HIV/AIDS. Além de todas as dores físicas que a doença provoca, tem a dor psicológica, o preconceito, o desamor, etc.

Conheci uma moça/mulher muito jovem (na faixa dos 18 anos, não lembro ao certo) e tenho certeza de muitos dos que leem isso aqui, vão saber de quem eu falo. A conheci em uma festa na casa de um amigo. Muito querida, sorridente, alegre, saudável… Numa fase ótima da vida. Eis que ela começou a namorar um cara, mas o namoro não durou muito.

Logo após o término do namoro, cada um pro seu lado, tudo normal. Dias depois ela começa a perceber algumas mudanças no seu corpo, na sua rotina. Pega uma gripe e é internada. Ao fazer alguns exames veio a “bomba”, ela estava com o vírus da AIDS. Desesperada e sem hesitar, ligou para o ex-namorado para contar, para que ele se cuidasse! E como um tapa na cara ela recebe a seguinte resposta: “eu já sabia. Mas é isso aí, cada um por si”.

Sempre que me lembro dela e dessas palavras do ex-namorado eu me arrepio. Eu imagino se fosse comigo. Eu imagino tudo o que passaria na minha cabeça ao me ver nessa situação. Uma mistura de ódio, medo, raiva, desespero… Debilitada em uma maca no hospital. Como contar isso para os familiares? A falta de sensibilidade é tão grande que é capaz de você ouvir na cara um “não se cuidou? Não se preveniu? Tá aí o resultado. Você que procurou.”. Hoje, infelizmente, ela já não está mais nesse plano.

Como a maioria dos casos, na nossa cultura, a culpa é sempre da vítima. O problema não é do cara que sabia que tinha AIDS não se cuidar. O problema era dela que não exigiu que durante a relação ele se cuidasse ou ela o fizesse. (?)

Não tenho este blog para julgar ninguém, nem pra definir o que está certo ou errado. Tenho este blog para mostrar relatos com este. Para que paremos de pensar apenas no próprio umbigo. Existe um mundo enorme aí fora. Nele existem muitas pessoas passando por esse tipo de situação neste momento. Façamos a nossa parte, vamos deixar nossas palavras de consolo… Vamos colocar o nome dessas pessoas em nossas orações. Vamos fazer o bem! Desejar o bem! Só assim poderemos viver no bem.

Por isso, diante de uma situação assim, seja caridoso. Tenha cuidado com os julgamentos. Você pode achar que isso nunca acontecerá com você, pois toma os devidos cuidados, mas pode acontecer com alguém da sua família, com um amigo próximo, etc. Vamos nos cuidar e passar essa mensagem para os outros. Não importa qual seja a sua opção sexual, a AIDS existe, mata e é sofrido.

Dia 1º de dezembro é o dia Internacional de Combate à AIDS. PREVINA-SE!

A AIDS não tem cara, não tem cor, não tem sexo, não tem idade! Pense nisso!

Por mais amor e menos dor 🙂

  1. #1 por Souza em 28/11/2014 - 14:32

    Dou portador de HIV há dezenove anos. Isso é um bocado de tempo e eu já vi, vivi e vivenciei coisas que nem o diabo imaginou que poderiam acontecer. Eu contrai AIDS de uma namorada a quem eu amava muito e, no entanto, ela tinha uma intenção ruim. Ela se sabia soropositiva e passou o HIV deliberadamente para mim. Eu não a culpo. Penso que a responsabilidade de todas as pessoas (incluindo a mim neste rol) é de cuidar de si mesmo. Existem bancadas no congresso que pretendem criminalizar o soropositivo que não revelar sua sorologia ao (a) parceiro(a).
    Um ativista amigo meu disse que deveríamos lutar por uma lei que tornasse a relação sexual desprotegida como tentativa de suicídio.

    Eu sempre soube da AIDS. Mas, para mim, era pegar e morrer. E eu não tenho um pingo de medo da morte; esta é uma coisa que todos nós teremos de fazer, mais cedo ou mais tarde. Senti uma tendencia neste texto de demonizar o portador de HIV e me senti particularmente incomodado, porque sei bem oi que acontece quando revelamos à sorologia a uma parceira soro interrogativa (quem não fez o teste é soro interrogativo).
    Tem o caso da Michele, que ficou comigo por um ano e inúmeras vezes ela quis praticar sexo sem camisinha e eu sistematicamente me recusei a isso, dizendo que era para o bem dela e o meu.
    Um dia, ela chegou em meu apartamento e puxou um papo mais sério.
    Disse que me amava, e que queria viver comigo.
    Eu disse:
    Então, temos de por uns pingos os is.
    E contei para ela da minha sorologia, da minha luta com 25 comprimidos por dia (mais duas injeções) e ela ouviu em silêncio. Mas ficou visivelmente abalada.
    Disse que precisava sair, respirar, e refletir.
    Ela nunca mais voltou a minha casa, nem para buscar as roupas dela, já que ela tinha até um lado do guarda roupas para ela.
    Para mim, fiou o sentimento de rejeição e a estupefação de isso ter acontecido com uma pessoa com quem eu me relacionei durante mais de doze meses e que acabara de me declarar amor e a intenção de viver comigo, “fazer vida”, ela disse.

    Hoje, mais de doze anos depois, ainda sinto um nó na garganta quando penso nisso e devo reforçar que, na época, entrei em profunda depressão.
    Eu uso camisinha sempre que me relaciono sexualmente com alguém e a intenção primária é me proteger. Outros, nem tanto.
    Mas eu considero que qualquer pessoa que mantém relações sexuais desprotegidas com quem quer que seja é séria candidata à infecção por HIV, HPV, HCV, gonorreia e otras cositas más.
    Cada um é, necessária e obrigatoriamente, responsável por si e por seu corpo.
    Sei que há mentes pervertidas na revolta (ou no desespero) que acreditam que, desta forma, transmitindo o vírus, consigam “se vingar”. Elas são, sempre a Nêmesis de si mesmas e certamente viverão pouco

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    • #2 por Gle em 28/11/2014 - 15:16

      Souza, primeiramente gostaria de te agradecer pelo comentário/relato e te peço desculpas se algo do texto te incomodou. Concordo plenamente com você de que ambos são responsáveis pela prevenção em uma relação. O que me deixou mal no caso desta amiga foi a insensibilidade do portador quando ela foi ligar para falar. Talvez eu não tenha me expressado direito, enfim. Adorei o seu relato e eu sinceramente não conheço a fundo as formas e tratamentos. 19 anos é bastante tempo e tenho certeza que você não teme a morte porque está ciente de que, independente de qualquer coisa, um dia ela chegará para todos nós. Você com certeza é um exemplo de luta, perseverança, respeito e de amor ao próximo, um ser de luz! Obrigada mais uma vez pelo comentário e que você encontre alguém que te ame de verdade, sem preconceitos. Namastê!

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      • #3 por Souza em 30/11/2014 - 05:24

        Namaste. Eu entendo que muitas pessos não compreendam a realidade do que é ser portador de HIV e disso nascem muitos enganos. E reconheço a frieza da pessoa que agiu como vetor.
        Estas são pessoas que, de alguma forma, enlouqueceram (…).
        O HIV pira as pessoas, especialmente logo depois da notificação e, infelizmente, passam a contaminar pessoas. A belissima mulher (isso fazia dela um grande perigo, me contaminou deliberadamente e eu tenho notícia de pelo menos mais uma vitima dela (se é que a pessoa transa sem camisinha e é vitima). O fato é que eu fui tão irresponsável comigo mesmo que, de certa form, deu a lógica e eu contrai HIV. Ela, faleceu um ano depois. Deus sabe o que faz.
        Convido você a ler minha história, uma parte dela, seguindo este link: http://soropositivo.org/2009/12/04/depoimento-de-um-soropositivo/
        Se vc gostar e achar pertinente, coloque um link do site em seu blogroll.
        Meu site tem mais de 4000 páginas e esta traduzido para 58 idiomas. É sempre uma ajuda e, por falar nisso, lamento a perda de sua amiga. RIP

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      • #4 por Cláudio Souza em 02/12/2014 - 17:34

        Oii. Eu tenho, sim e finalmente, alguém que me ama. Ela tb é soropositiva e me parece masi fácil, apesar de tudo, manter uma relação assim. Eu a amo como nunca amei a ninguém e, creia, eu tive muitas mulheres…

        Fiquei feliz por vc ter respondido e não quero que você entanda o comentário como algo parecido com “reproche”.

        Há muito mal entendido na coisa de se falar sobre HIV e AIDS porque a midia venal que nós temos não apresenta os fatos como esles devem ser e, quando muito, é nesta época do ano, e na proximidade do carnaval, que se fala em camisinha.
        É duro, mas é assim

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      • #5 por Gle em 03/12/2014 - 09:51

        Fico feliz que tenhas encontrado alguém especial. Tudo fica mais fácil quando temos ao nosso lado pessoas que nos amam verdadeiramente.
        Quanto a mídia… É complicado! Eu sinceramente não entendo pq sensacionalismo faz tanto sucesso. Ai entra a questão cultural/social do nosso país… (sem mais delongas pq esse assunto rende muito comentário).
        Ainda não li sua história, mas se for para ajudar pessoas, vou adicionar o link aqui no blog sim. Apesar de não muito “popular”, ao menos as pessoas que o visitam, podem ajudar outras pessoas.
        Obrigada mais uma vez pelo relato. Vamos quebrando os paradigmas e mostrando os vários ângulos e situações que acontecem ao nosso redor, sem preconceitos! Abraços e tudo de bom.

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      • #6 por Cláudio Souza em 03/12/2014 - 11:03

        Obrigado por se alinhar com um assunto para o qual as pessoas, geralmente, torcem o nariz. É importante, muito importante eu diria, espalhar informção sobre isso. Meu site tm 14 anos de existência e algo em torno de quatro mil posts. Tem assunto a bessa lá e muita coisa direta ou indiretamente ligada ao tma. Eu milito contra a violência de gênero, abuso sexul, homofobia…
        Tenho muitos inimigos pelo mundo, porque o site esta traduxido para 58 idiomas. Recebo acesso até da Indonésia; e fico muito feliz por isso, pois é a forma que eu encontrei para, de alguma forma, justificar minha presença neste mundo, aos Olhos de Deus. Você não tem idéia do que já tive de fazer pra manter este site no ar e a unica coisa que me preocupa é a continuidade dele depois que eu partir, porque é certo que, dia, menos dia, eu partirei.
        E já tenho a consciencia muio tranquila, guardads as devidas proporções, sobre meus débitos perante a Justiça onde não se acordos espúrios.
        Um abraço e até logo mais

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